Tradição Cubana (Ifá-Osha) e Tradição Africana

 

O texto a seguir, tem por objetivo esclarecer pontos fundamentais sobre a Tradição, origem e desenvolvimento da religião, seu contexto histórico e atual, minimizando assim a falta de conhecimento e esclarecimento sobre a mesma, que assola a muitos, entre religiosos e leigos, o que permite assim, o uso disseminado e mal intencionado de alguns indivíduos que, de alguma forma, afastam da verdade e do Sagrado inúmeras pessoas.

Devo ressaltar então, que nossa Tradição está embasada por escrituras antigas, nas quais se justificam todas as Cerimônias, rituais, que por sua vez, reciprocamente, justificam a autenticidade das mesmas. Infelizmente, alguns ditos “Sacerdotes” se empenham em pôr em dúvida a veracidade das escrituras sagradas de ifá, sem se dar conta de que, nem mesmo eram nascidos quando as mesmas foram catalogadas e que já vinham sendo realizadas assim desde então.

Para o melhor entendimento, aconselha-se que se estudem a fundo a base histórica e literária da nossa religião, evitando assim, o desrespeito ao Sagrado, no que se refere a alguns indivíduos.

A chegada dos Africanos a Cuba foi dramática, em barcos lotados de homens e mulheres, tratados de forma desumana, sob o punho da escravidão e da degradação humana. Tais negros, trazidos a Ilha, digo não por coincidência, mas pela facilidade e melhor rota marítima que fazia Cuba com a Nigéria, dotados de sua religiosidade e cultura, foram levados ao mais baixo extrato social e considerados apenas mercadorias de trabalho.

Muitas etnias, costumes, culturas, tradições e expressões religiosas, se constituíram como forma de sobrevivência naquelas condições. Porém, muitos destes homens, e suas culturas espirituais, tratados desta forma sub-humana, eram portadores de uma poderosa cultura imaterial, e de valores intangíveis e inigualáveis armazenados em seus corações e mentes.

Este Universo limitado em que se converteu Cuba permitiu que pouco a pouco surgisse uma estrutura nova e distinta, porém, conservando valores, modo de pensar e agir do homem e da mulher e de seus descendentes. Tais expressões africanas encontraram com outras vertentes já existentes na ilha, ou se incorporaram posteriormente. Assim se dá início a uma fecunda união na qual deram origem as religiões Cubanas de origem Africanas. Dentre elas, a mais resplandecente, IFÁ-OSHA.

Como mostram os relatos, “NOSSA DESCENDENCIA ANCESTRAL, DESAPARECEU DAS TERRAS YORUBÁS”, pois todos foram tomados como escravos, e as outras tribos que, desfeitas e desestruturadas, ficaram então no poder, expandiram suas diretrizes religiosas, acabando por desaparecer completamente esta linhagem em terras Yorubas. O que nos leva a conclusão que a tradição religiosa e verídica se manteve intacta na Ilha de Cuba, e em nenhum outro lugar mais, sobre o alto preço de muitas vidas e sofrimentos de nossos queridos Ancestrais.

Cito nomes como: Adeshina, Adolfo Fresneda-Ogunda Tetura, Ño Carlos Ardevi-Ojuani Boka, Luguere, Barnabé Menocal, Ño José Aconcon-Oyekun meyi, Anai, Atanda, Francisco Carabá, Asedan e outros mais, todos de origem africana, dos quais muitos de seus descendentes, eternizaram e solidificaram IFÁ, para sempre. Tais como: Tatá Gaitan-Ogunda Fun, Bernardo Rojas, Cornélio Vidal, Asuncion Villalonda, Guillermo Castro, Bruno Peñalver, Miguel Febles, Atanacio Torres, Joaquim Salazar, Panchito Febles, Cundo Sevilla, Juan Antonio Ariosa, Tim, Pedro Ruiz, Juan Ângulo, El de Joseito Herrera, El Chino Ofarrill, Albelo, Diego Fontela, Elpídio Cárdenas, Adalberto Abreu, Ceba, Chino Poey, Martinez, Cheché, Santa Cruz, Madrigal (Ogbe di), Luciano Canto, Angel Padrón, Bruno Peñalver, Atanacio Torres, Andrés Bombalier, dentre muitos outros.

Até meados dos anos de 1960, tanto IFÁ quanto OSHA, eram vistos com reservas, não somente por não ser uma expressão Católica, mas também por ser considerado um Culto utilizado por negros, que não eram ilustres, nem tampouco alfabetizados em sua maioria. Porém, sim, tinham o conhecimento dos infinitos feitos, e conquistas que foram obtidos fazendo uso dos poderes secretos destes Cultos. Na medida em que foi se estabelecendo o totalitarismo no País, o qual causou grande escassez, numa fase em que, existia dinheiro em abundancia e não havia o que comprar. Não se sabia e não havia em que gastar!

É quando então, começam a chegar a IFÁ e a OCHA, os brancos, pessoas letradas e ilustres, em grandes quantidades. Já por meados dos anos de 1970, este contingente de pessoas que chegaram a Osha e a Ifá, constitui a terceira geração de IFÁ-OSHA em Cuba. Desta fase podemos destacar alguns nomes como Ubaldo Porto, Félix Cancio, Ivo Morales Diaz, Mario Abreu Hernandez, Lázaro Hipólito, Alfonso Armenteros, Jorge Ramirez, Jose Ramón Ávila Otero, Pablo Roberto Lara, Benito Ochepaure, Buenaventura Paez, Luis Chala Izquierdo, Marqueti, Laureano Iwori Otura. Alguns dos nomes citados se estabeleceram no exterior, formando assim descendências religiosas.

Tais descendências originaram ramas, como a de Elpídio Cárdenas- Otura Sá, afilhado de Arturo Peña-Otrupon Bara Ife. Sendo Elpídio Cárdenas padrinho de Amoro Bango, que por sua vez foi padrinho de Wilfredo Nelson-Erdibre, que é padrinho de José Roberto Brandão Teles-Ojuani Meyi, sendo o mesmo padrinho deste que vos escreve, Evandro L.C.-Otura Aira

Diante de tal evidencia histórica, relatando então, fatos relevantes ao conhecimento de todos sobre a Tradição religiosa a qual fazemos parte, devo citar “outros”, não de origem tradicional de IFÁ Cubano, mas sim estrangeiros (Nigerianos), que tem atribuído de forma negativa, comparações a Tradição Cubana sem sequer nem conhecer dela o suficiente, ou não conhecer absolutamente nada de IFÁ.

Alguns desses personagens, fazendo longas análises em suas mentes curtas de intelecto, têm proposto a todo custo, reformar os fundamentos da Tradição Cubana, por entender, eles, que estamos incorretos. Animados talvez por um afã de suavizar a síndrome de pouca atenção, de que desde seu nascimento vêm sofrendo. Não tenho escutado da boca de nenhum “tradicionalista real Nigeriano”, falar abertamente sobre este tema, a menos que façam por nossas costas, coisa que não duvido. Pois alguns destes faladores que não são nem daqui, nem de lá, estão repetindo o que eles dizem.

Notem que, os NIGERIANOS NÃO QUALIFICAM NINGUÉM como Babalawo! Seja quem seja que não tenha menos de 10 a 15 anos de preparação, aprendendo sobre a orientação de um mestre lá na Nigéria. Por que não dizem que esta metodologia lá é diferente? Por que não se ajustam a isto? Claro, não é conveniente, já que eles devem agir como Babalawos hábeis e de conhecimentos, mas são incapazes de curar ou consertar a vida de alguém. Mas os por eles iniciados, não sabem o que fazer para poder começar a recuperar o dinheiro lá deixado. O que acabam necessitando, por conta da aventura turística que a muitos lhes há custado até a vida.

Estes “alunos do ocidente”, da Tradição Nigeriana, são consagrados em três dias, o suficiente para que, quando cheguem a nossas terras, comecem a falar do que na realidade desconhecem, como se fossem doutores do tema. São como crianças que vão ao zoológico e contam aos seus coleguinhas o que viram. Não sabem nem como se chama o animal, mas estiveram ali… Não conhecem uma erva, não conhecem uma reza, só falam por falar com a intenção de minimizar nossa vertente, com um só objetivo de levar mais pessoas para engordar seus bolsos, pois por religiosidade, e conhecimento, na realidade não o fazem. Até porque, suas intenções são visualmente lucrativas, e não de formar esse ou aquele em IFÁ,e mesmo que quisessem não teriam condições, seriam desmascarados diante de seus supostos discípulos, no momento em que tivessem que expor seus conhecimentos.

Também convoco os nossos irmãos de Ifá, da Tradição Cubana, a não permitir que pessoas como estas continuem agindo impunemente, neste trabalho metódico anti-Tradição Cubana pois: “Tanto é culpado aquele que mata a vaca, quanto é o que segura a pata”. Neste mundo existem três tipos de pessoas: aqueles que fazem as coisas acontecerem; aqueles que vêem como as coisas acontecem e nada fazem; e aqueles que perguntam: como acontece? Analise e pergunte a si mesmo, qual desses é você? Lamentavelmente tenho notícias de alguns Awos de nossa rama Cubana aqui no Brasil, que ao invés de combater a epidemia de ignorância que nos assola, pelos ditos Sacerdotes Nigerianos, ainda se aliam aos mesmos. A esses irmãos, digo, envergonhadamente, que não honram o nome de Ifá. Por quê queridos irmãos, “obi kola”? Gan, em um plante? Dezesseis inkines no ikofá? Mesa cerimonial num plante?

Acredito eu, por falta de razão em suas personalidades! Não creio que seria por falta de conhecimento! Mas enfim, que Olofin ilumine seus Ori!

 

Creio que aqueles que atacam a nossa tradição, estão jogando por terra séculos de sacrifícios. E é uma falta de respeito desonrar nossos ancestrais que tiveram a glória de manter intacta nossa religião.

Aos mesmos ditos tradicionalistas, mando-lhes um recado. Em breve suas teses cairão,e se envergonharão diante de todos que enganaram. Como diz Ifá, quando a verdade chega, a mentira se envergonha e vai embora!

Às vezes lamento que o nível de conhecimento de alguns de nossos awos esteja tão limitado, ao ponto de permitir que indivíduos assim se estabeleçam em nosso contexto. Que pena sinto desses indivíduos que fazem análises comparativas da tradição cubana, com outras. Pois são os menos indicados para realizá-las, inclusive são os menos preparados!

Insisto neste termo: despreparados; são incapazes de rezar um odu. Peço aos queridos leitores que diante de um farsante, os pergunte, ao mesmo, se pelo menos sabem rezar dois odus, e constatarão o que digo!

Meus irmãos iniciados em Ifá por nossa tradição, peçam para que falem seus odus, que com certeza irão titubear, inventar poemas, recitar isto ou aquilo, e nos atacar, para desviar a atenção de sua ignorância . Porém falar Ifá, será algo impossível para eles.

Eu recomendaria a todos os personagens citados que, ao invés de estarem comparando uma tradição com outra, que se esforcem em ensinar aos seus discípulos a tradição que professam. Não creio que seja necessário para exaltar a mesma, que se critique a outra. Um homem para realçar sua honra, não precisa criticar ao outro, simplesmente precisa demonstrá-la. Quanto me pesa ter que, em minha dissertação ter que criticar o comportamento de todos estes “contistas” e “religiosos degenerados”, mas é necessário, pois ficar calado é admitir sua estupidez! E isto não está certo! Além do mais, eu provo com conhecimento o que expresso em meus escritos, diferente de muitos, que por sua parte, quando falem, também tem que fazê-lo!

Se desejarem fazer negócio, realçar o ego perdido na infância, tudo bem. Estão no seu direito, mas acredito que não há necessidade de desmoralizar a tradição onde muitos deles inclusive, foram iniciados. De verdade, isto é injusto! Quando devemos somar e não dividir em uma religião tão bonita como a nossa!

Agradeço a todos e alerto quanto a infinidade de loucuras infundadas, existentes em foruns e páginas mal feitas na internet, que conseguem unicamente confundir e desviar a mente carente de milhares de pessoas, tanto religiosos quanto curiosos, que buscam de alguma forma orientação. Aos meus irmãos, mesmo sendo criticado, porém jamais me abstendo da verdade, peço que observem que minhas humildes palavras um dia serão lembradas por todos aqueles que de alguma forma, difamam a religião e comprovarão assim sua força e veracidade.

 

Ashé! Iboru, Iboya, Ibosheshe!